“Porque as obras da
carne são manifestas, as quais são: prostituição, impureza, lascívia,
idolatria, feitiçarias, inimizades, porfias, emulações, iras, pelejas,
dissensões, heresias, invejas, homicídios, bebedices, glutonarias e coisas
semelhantes a estas, acerca das quais vos declaro, como já antes vos disse, que
os que cometem tais coisas não herdarão o Reino de Deus. Mas o fruto do
Espírito é: caridade (amor), gozo, paz, longanimidade, benignidade, bondade,
fé, mansidão, temperança. Contra essas coisas não há lei.” Gl 5.19-23
Nenhum trecho da Bíblia
apresenta um mais nítido contraste entre o modo de vida do crente cheio do
Espírito e aquele controlado pela natureza humana pecaminosa do que 5.16-26.
Paulo não somente examina a diferença geral do modo de vida desses dois tipos
de crentes, ao enfatizar que o Espírito e a carne estão em conflito entre si,
mas também inclui uma lista específica tanto das obras da carne, como do fruto
do Espírito.
OBRAS DA CARNE.
“Carne” (gr. sarx) é a
natureza pecaminosa com seus desejos corruptos, a qual continua no cristão após
a sua conversão, sendo seu inimigo mortal (Rm 8.6-8,13; Gl 5.17,21). Aqueles
que praticam as obras da carne não poderão herdar o reino de Deus (5.21). Por
isso, essa natureza carnal pecaminosa precisa ser resistida e mortificada numa
guerra espiritual contínua, que o crente trava através do poder do Espírito
Santo (Rm 8.4-14; ver Gl 5.17).
As obras da carne
(5.19-21) incluem:
(1) “Prostituição” (gr.
pornéia), i.e., imoralidade sexual de todas as formas. Isto inclui, também,
gostar de quadros, filmes ou publicações pornográficos (cf. Mt 5.32; 19.9; At
15.20,29; 21.25; 1Co 5.1). Os termos moichéia e pornéia são traduzidos por um
só em português: prostituição.
(2) “Impureza” (gr.
akatharsia), i.e., pecados sexuais, atos pecaminosos e vícios, inclusive maus
pensamentos e desejos do coração (Ef 5.3; Cl 3.5).
(3) “Lascívia” (gr.
aselgeia), i.e., sensualidade. É a pessoa seguir suas próprias paixões e maus
desejos a ponto de perder a vergonha e a decência (2Co 12.21).
(4) “Idolatria” (gr.
eidololatria), i.e., a adoração de espíritos, pessoas ou ídolos, e também a
confiança numa pessoa, instituição ou objeto como se tivesse autoridade igual
ou maior que Deus e sua Palavra (Cl 3.5).
(5) “Feitiçarias” (gr.
pharmakeia), i.e., espiritismo, magia negra, adoração de demônios e o uso de
drogas e outros materiais, na prática da feitiçaria (Êx 7.11,22; 8.18; Ap 9.21;
18.23).
(6) “Inimizades” (gr.
echthra), i.e., intenções e ações fortemente hostis; antipatia e inimizade
extremas.
(7) “Porfias” (gr.
eris), i.e., brigas, oposição, luta por superioridade (Rm 1.29; 1Co 1.11; 3.3).
(8) “Emulações” (gr.
zelos), i.e., ressentimento, inveja amarga do sucesso dos outros (Rm 13.13; 1Co
3.3).
(9) “Iras” (gr.
thumos), i.e., ira ou fúria explosiva que irrompe através de palavras e ações
violentas (Cl 3.8).
(10) “Pelejas” (gr.
eritheia), i.e., ambição egoísta e a cobiça do poder (2Co 12.20; Fp 1.16,17).
(11) “Dissensões” (gr.
dichostasia), i.e., introduzir ensinos cismáticos na congregação sem qualquer
respaldo na Palavra de Deus (Rm 16.17).
(12) “Heresias” (gr.
hairesis), i.e., grupos divididos dentro da congregação, formando conluios
egoístas que destroem a unidade da igreja (1Co 11.19).
(13) “Invejas” (gr.
fthonos), i.e., antipatia ressentida contra outra pessoa que possui algo que
não temos e queremos.
(14) “Homicídios” (gr.
phonos), i.e., matar o próximo por perversidade. A tradução do termo phonos na
Bíblia de Almeida está embutida na tradução de methe, a seguir, por tratar-se
de práticas conexas.
(15) “Bebedices” (gr.
methe), i.e., descontrole das faculdades físicas e mentais por meio de bebida
embriagante.
(16) “Glutonarias” (gr.
komos), i.e., diversões, festas com comida e bebida de modo extravagante e
desenfreado, envolvendo drogas, sexo e coisas semelhantes.
As palavras finais de
Paulo sobre as obras da carne são severas e enérgicas: quem se diz crente em
Jesus e participa dessas atividades iníquas exclui-se do reino de Deus, i.e.,
não terá salvação (5.21; ver 1Co 6.9).
O FRUTO DO ESPÍRITO.
Em contraste com as
obras da carne, temos o modo de viver íntegro e honesto que a Bíblia chama “o
fruto do Espírito”. Esta maneira de viver se realiza no crente à medida que ele
permite que o Espírito dirija e influencie sua vida de tal maneira que ele (o
crente) subjugue o poder do pecado, especialmente as obras da carne, e ande em
comunhão com Deus (ver Rm 8.5-14 nota; 8.14 nota; cf. 2Co 6.6; Ef 4.2,3; 5.9;
Cl 3.12-15; 2Pe 1.4-9).
O fruto do Espírito inclui:
(1) “Caridade” (amor)
(gr. agape), i.e., o interesse e a busca do bem maior de outra pessoa sem nada
querer em troca (Rm 5.5; 1Co 13; Ef 5.2; Cl 3.14).
(2) “Gozo” (gr. chara),
i.e., a sensação de alegria baseada no amor, na graça, nas bênçãos, nas promessas
e na presença de Deus, bênçãos estas que pertencem àqueles que crêem em Cristo
(Sl 119.16; 2Co 6.10; 12.9; 1Pe 1.8; ver Fp 1.14).
(3) “Paz” (gr. eirene),
i.e., a quietude de coração e mente, baseada na convicção de que tudo vai bem
entre o crente e seu Pai celestial (Rm 15.33; Fp 4.7; 1Ts 5.23; Hb 13.20).
(4) “Longanimidade”
(gr. makrothumia), i.e., perseverança, paciência, ser tardio para irar-se ou
para o desespero (Ef 4.2; 2Tm 3.10; Hb 12.1).
(5) “Benignidade” (gr.
chrestotes), i.e., não querer magoar ninguém, nem lhe provocar dor (Ef 4.32; Cl
3.12; 1Pe 2.3).
(6) “Bondade” (gr.
agathosune), i.e., zelo pela verdade e pela retidão, e repulsa ao mal; pode ser
expressa em atos de bondade (Lc 7.37-50) ou na repreensão e na correção do mal
(Mt 21.12,13).
(7) “Fé” (gr. pistis),
i.e., lealdade constante e inabalável a alguém com quem estamos unidos por
promessa, compromisso, fidedignidade e honestidade (Mt 23.23; Rm 3.3; 1Tm 6.12;
2Tm 2.2; 4.7; Tt 2.10).
(8) “Mansidão” (gr.
prautes), i.e., moderação, associada à força e à coragem; descreve alguém que
pode irar-se com eqüidade quando for necessário, e também humildemente
submeter-se quando for preciso (2Tm 2.25; 1Pe 3.15; para a mansidão de Jesus,
cf. Mt 11.29 com 23; Mc 3.5; a de Paulo, cf. 2Co 10.1 com 10.4-6; Gl 1.9; a de
Moisés, cf. Nm 12.3 com Êx 32.19,20).
(9) “Temperança” (gr.
egkrateia), i.e., o controle ou domínio sobre nossos próprios desejos e
paixões, inclusive a fidelidade aos votos conjugais; também a pureza (1Co 7.9;
Tt 1.8; 2.5).
O ensino final de Paulo sobre o fruto do Espírito é que não há qualquer restrição quanto ao modo de viver aqui indicado. O crente pode — e realmente deve — praticar essas virtudes continuamente. Nunca haverá uma lei que lhes impeça de viver segundo os princípios aqui descritos.